The Lizzie Bennet Diaries: Orgulho e Preconceito nos tempos modernos

É uma verdade universalmente reconhecida que Orgulho e Preconceito é uma das melhores histórias de todos os tempos. Afinal, apesar de ser um livro focado no ambiente doméstico, ele consegue falar de política, de sociedade e principalmente, do lugar das mulheres nessas duas coisas. Uma dessas histórias que resistem ao tempo e estão sempre dizendo algo bastante atual. Ainda mais agora com a mais nova adaptação desse clássico da literatura inglesa, The Lizzie Bennet Diaries.

The Lizzie Bennet Diaries: uma apropriação moderna de Orgulho e Preconceito

Como seria Orgulho e Preconceito se a história se passasse no século XXI?


Primeira informação importante antes de irmos pro ponto principal desse post: Orgulho e Preconceito não é um livro romântico. * observando a expressão de choque de algumas pessoas * Na verdade é uma obra realista (* observando mais expressões de choque das pessoas *). Jane Austen tematiza em seus livros questões relativas às mulheres no final do século dezoito, início do século dezenove. O tema central é casamento, mas este não é visto como um sonho ideal, mas sim como a única possibilidade de futuro para as mulheres que na época não tinham direito nem de comprar a própria casa.

Capa da edição original de “Orgulho e Preconceito”

As protagonistas de Jane Austen, apesar de se envolverem romanticamente, encaram relacionamentos amorosos com alguma racionalidade e nenhuma delas espera que casamento traga felicidade, pelo contrário. Casamento é algo prático e pra isso é preciso usar a cabeça. Encontrar o par que ofereça as melhores possibilidades é garantia de um futuro decente. Obviamente que essas protagonistas se apaixonam, mas o final feliz não é garantido e todos os passos que levam dessa paixonite ao casamento são problematizados ao mesmo tempo que a sociedade da época é analisada e criticada.

Mas o que é que Orgulho e Preconceito (e também os outros livros de Austen), ainda têm a dizer para as mulheres do século XXI?

Keira Knightley em uma das adaptações mais bem sucedidas da obra.

Certamente que alguma coisa, uma vez que as adaptações são inúmeras. Desde adaptações mais próximas como o filme hollywoodiano com Keira Knightley e a versão britânica com Colin Firth, até às mais inusitadas como o indiano Bride and Prejudice e o livro Orgulho e Preconceito e Zumbis. Existe algo sobre costumes, hipocrisia, amor, casamento e família que permanece nessa obra e nos faz refletir sobre ela. Dessa forma, todas essas leituras são atuais. Mas certamente The Lizzie Bennet Diaries levou essa ideia de atualidade às últimas consequências.

O vlogueiro Hank Green (irmão do escritor John Green) decidiu produzir Orguho e Preconceito e transformá-lo em um vlog na internet. Na adaptação, a protagonista Elizabeth (Lizzie) vive no século XXI e tem um vlog com sua amiga Charlotte no Youtube. Lizzie comenta sua vida, as questões de relacionamento, o problema financeiro de seus pais, suas aspirações profissionais e, principalmente, o namoro de sua irmã mais velha Jane com o estudante de medicina Bing Lee. Num tom inovador e irreverente, com excelentes atuações, The Lizzie Bennet Diaries força os limites da adaptação fílmica numa produção extremamente criativa.

Ashley Clements na pele da Lizzie Bennet contemporânea

Okay, isso pode parecer muito estranho. Como assim Lizzie vive no século XXI e tem um vlog? Isso não é forçar demais a barra? Foi o que eu achei a princípio, mas o vlog me surpreendeu por sua qualidade e seriedade na adaptação. Os diálogos são extremamente bem feitos e as atuações, excelentes. Inclusive, a proposta é realmente diferenciada: o vlog força os limites entre a adaptação de um livro e uma experiência real. Tanto que alguns expectadores acreditam que Lizzie realmente existe, uma vez que há toda uma mídia social em cima do projeto com Facebook, Tumblr e Twitter.

Toda a trama de Orgulho e Preconceito foi estudada e repaginada para fazer sentido nos dias atuais (por exemplo com Lydia, a irmã mais nova de Lizzie, ser uma adolescente festeira e irresponsável), trazendo elementos do nosso cotidiano sem no entanto perder aquele toque especial do livro. Além disso, toda a linguagem de vlog foi cuidadosamente reproduzida no sentido de que o expectador realmente consegue acreditar que está assistindo a algo genuíno, não uma adaptação super produzida.

As imitações de Lizzie e Charlotte conferem mais dinamismo à narrativa e apresentam o ponto de vista de outros personagens.

Para dar maior vivacidade à trama, Lizzie e Charlotte imitam os outros personagens (que nunca aparecem no vídeo, já que este é sempre feito da perspectiva de Lizzie com eventuais partipações de Jane, Lydia e Charlotte) como a Sra e o Sr. Bennet, Bing Lee e claro, Darcy. Todos os recursos da adaptação (ou versão ou apropriação, chamem do que quiser) são extremamente bem bolados e demonstram respeito e valor pela trama de Jane Austen.

Sobre a proposta de The Lizzie Bennet Diaries, Hank Green declarou:

Eu quis fazer algo maior. Eu quis contar a história quase inteiramente do ponto de vista de Lizzie fazendo que ela contasse sua história para nós. É bastante inusitado. Não existem provas de sucesso desse tipo de formato, então é realmente arriscado.

www.lizziebennet.com

Arriscado ou não, a série online tem cerca de 27.000 visitas a cada novo episódio além de milhares de seguidores nas redes sociais. Com bom humor e muita criatividade, é sinceramente uma das melhores adaptações que já vi nada vida. Todo lançamento de novo episódio (segundas e quintas) lá estou eu. Nem preciso dizer que recomendo demais para qualquer fã de Jane Austen, de vlogs ou simplesmente de boas histórias

The Lizzie Bennet Diaries

A série tem até agora 22 episódios e 2 episódios especiais de perguntas e respostas enviadas pelos fãs. Todos os episódios têm legenda em inglês e os primeiros já têm legendas em português no Youtube (clicando no CC). Para assistir, acesse a lista de episódios aqui ou vá para www.lizziebennet.com.

Acompanhe uma das adaptações mais revolucionárias de nossos tempos! Afinal, clássicos sempre têm algo a nos dizer.

Clique aqui para assistir o primeiro episódio!


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