As Bienais e eu: um relato sobre uma escritora se encontrando em pavilhões lotados

A cada Bienal vem uma emoção diferente. E depois de cada uma delas eu nunca mais fui a mesma.

Essa foi a quarta Bienal da qual participei. De sexta a domingo fiquei no estande da Editora Draco durante todo o dia, divulgando meu livro, Metrópole: Despertar, e prestigiando o trabalho dos meus colegas autores. Mas esse não vai ser um post contando o que foi que aconteceu lá no Pavilhão Verde N3, a Karen Alvares já contou tudo bem melhor do que eu aqui. O que eu quero fazer agora é um relato da experiência que foi pra mim ser escritora na Bienal do Livro nas últimas quatro edições.

Veja bem, em 2014, na Bienal de São Paulo, eu e a Karen Alvares fomos na cara e na coragem distribuir marcadores pra galera. Eu lembro da gente perambulando a praça de alimentação, abordando pessoas sentadas na beirada dos estandes, entregando os marcadores com divulgação dos nossos e-books. Estava abafado e quente no Anhembi, batemos perna o dia inteiro e acabamos sentadas num canto, olhando nossas caixas de marcadores. O nariz da Karen começou a sangrar por causa do ar seco e o meu pé parecia mais uma bola com dedinhos de porco. Não sei se nossa ação surtiu algum efeito, se realmente quem pegou aqueles marcadores entrou lá na Amazon e comprou nossos e-books, mas naquele momento eu sabia que tinha colocado em prática meu plano da vida toda: ser escritora.

Eu e a Karen Alvares já descabeladas e mortas depois de horas batendo perna distribuindo marcadores

Existia o sonho, agora ele era palpável. Eu estava dando minha cara a tapa numa Bienal, me expondo e, na frente da Karen (testemunha e companheira dessa jornada literária), dizendo em voz alta: ei, olha aqui, eu sou escritora, eu tenho livros publicados, eu existo!

No ano seguinte, lá estávamos nós de novo na Bienal, dessa vez a do Rio de Janeiro. A Karen estava lançando seu Inverso com a Editora Draco, que tinha um estande dessa vez, e eu fui promover as antologias Excalibur e Boy’s Love, que tinham contos meus. Além disso, eu tinha na mala uma caixa cheia do meu recém-lançado livro infantil A Última Tourada. Depois dos milhares de downloads online, eu queria ver como o livro se saía na versão física.

Eu com as leitoras Sophia e Luciane (que inclusive, foi lá pra me ver!)

Até hoje eu não sei bem de onde tirei essa coragem e essa força, mas eu peguei aquela caixa e vendi os livros no boca-a-boca na Bienal. Conversava com pais na praça de alimentação, com crianças nos corredores, professoras, quem é que estivesse paradinho num canto. Ouvi de tudo: que lindo, que incrível, que lixo, você não tem vergonha de ficar vendendo assim não, sai daqui, que livro feio. Algumas vezes a minha vontade era sair correndo pro banheiro, sumir, mas eu dizia: só mais um livro, só mais um. E esse mais um ia para alguma criança risonha que me abraçava e aí toda a energia era renovada.

Dessa vez eu estava me expondo de um jeito completamente novo: era só eu e a minha caixa de livros pelos corredores. Só eu e a confiança de que aquilo que eu tinha que mostrar era bom. Sinceramente não sei se consigo fazer algo assim de novo, mas quando vi a caixa vazia eu lembro de ter sentido um calor no coração. Um monte de crianças tinha levado meu mundo pra casa e aquilo era incrível.

2016 veio com um sonho realizado: meu primeiro romance, Metrópole: Despertar, estava publicado pela Editora Draco e era um dos lançamentos da Bienal. O estande da Draco agora era maior e eu não precisava mais ficar vagando pelos corredores da Bienal atrás das leitoras e leitores. Agora eu tinha um lugar onde eles poderiam me encontrar.

Eduardo Kasse, Ana Lúcia Merege, Hugo Vera, Dana Guedes, Erick Sama, Karen Alvares, euzinha e Jaqueline de Marco

Mas se engana quem pensa que sentei atrás de uma mesinha e fiquei autografando, cumprindo essa imagem que a gente tem de escritores, que saem nos intervalos pra tomar um cafezinho (até porque café me deixa muito agitada) enquanto discutem assuntos muito importantes (importante pra mim é a hora que a gente vai comer). Metrópole: Despertar esgotou nessa Bienal como resultado de eu ficar mais de dez horas em pé, ali, na frente do estande, distribuindo marcadores, chamando as pessoas para conhecer não só o meu trabalho, mas também os dos meus companheiros e companheiras de editora.

O #dracospirit pra mim se tornou real ali, com aqueles autores (dentre eles a Karen Alvares, o Eduardo Kasse, a Ana Lúcia Merege, a Dana Guedes e, claro, nosso editor, Erick Sama), que eu passei a conhecer. Foi nessa Bienal que aprendi o catálogo da Draco, oferecendo livros e quadrinhos para quem aparecia ali no estande querendo conhecer mais um pouquinho da ficção científica e da fantasia brasileiras. Foi mais um degrauzinho daquele sonho de ser escritora, daquele compromisso que tinha feito anos atrás de me mostrar. Eu lembro que no vôo pra casa me senti parte de uma comunidade de autores, parte desse mundo da escrita.

Esse ano não teve lançamento, mas teve presença. E lá estava eu de novo no estande da Draco conhecendo leitores, entregando marcadores, compartilhando experiência com meus colegas escritores e vendendo livros. Só que foi um pouquinho diferente: teve gente chegando no estande já conhecendo a Draco, já tendo, muitas vezes, lido livros da editora. Teve blogueiros e blogueiras queridos vindo nos visitar, dando abraço apertado, valorizando nosso trabalho. Teve leitor voltando no dia seguinte para comprar mais livros. E a cada foto que eu tirava com aqueles leitores e leitoras, eu sentia que tinha valido a pena tudo naqueles últimos anos.

A distribuição de marcadores infinita.

A caixa levada embaixo do braço durante horas a fio.

Os pés doídos de ficar 10h em pé.

Eu estava deixando minha pequena marca no mundo literário. Ali, naquele estande no Rio de Janeiro, rodeada de autores, velhos e novos, que aprendi a admirar pelo que escrevem e pelas pessoas que são. Eu me senti eu mesma e esse é o sentimento mais maravilhoso que podemos ter. Me senti livre para falar as besteiras que falo, para dançar, pra rir até cansar, para abraçar pessoas, para fazer piadas, para ser a Melissa que sou.

Em cima: Dana Guedes, euzinha sorridente, Karen Alvares e Viviane Fair. Embaixo: Ana Lúcia Merege e Aya Imaeda.

Nessa Bienal eu descobri que a Melissa escritora não é uma entidade à parte da minha personalidade. Sou eu mesma. Ali, mostrando pro mundo o que a minha mente meio maluca escreveu numa tarde quente bem tediosa (e depois por várias noites e madrugadas tensas).

Cada Bienal é uma emoção diferente.

São Paulo 2018: que é que vai ser, hein?

2 Comentários

  1. Que é que vai ser Sampa 2018? Ora… Vai. Ser. ÉPICO!!!!!

    Muito bom te reencontrar e te ver revigorada em seu sonho!!!

  2. Eu amei o post! Fiquei muito feliz em conhecer um pouco mais sobre como foi sua experiência crescendo como escritora e junto ainda aprendi mais sobre como foi a experiência da Karen e da Draco ♥

    Desejo todo o sucesso do mundo para vocês, saiba que minha admiração cresce cada vez mais, com toda essa luta vocês merecem brilhar muito no mundo literário!

    Beijos!!!

Comente!