A pergunta mais feita e mais evitada nos últimos meses. E agora finalmente a resposta que devia para leitoras e leitores.

Quando sai coisa nova? E o segundo livro da série Metrópole? E o novo capítulo no Wattpad? Vai ter conto de graça na Amazon em breve? E a Última Tourada? Tem novidade? É verdade que vai sair conteúdo exclusivo de Metrópole? E os vídeos que você falou que ia começar a fazer? E aí? E aí?

Todas essas perguntas, feitas nas redes sociais, e-mail e até pessoalmente causaram duas reações:

1 – A maior alegria! Afinal, como assim tem tanta gente que se importa com o que eu estou escrevendo? Que está realmente esperando coisa nova! Isso é I-N-C-R-Í-V-E-L!
2 – Uma angústia de não saber como explicar, o que mais dizer, só que… não dá.

Não dá.

Tá aí duas palavras que eu não estou acostumada a dizer nessa vida. Porque tudo sempre deu, no fim das contas eu sempre espremi pra sair, me contorci, fiz a massa render. Só que dessa vez não teve como. E é um pouco disso que eu vou falar aqui, não só como uma forma de explicar as coisas pra leitoras e leitores, mas também para falar com os amigxs escritorxs que podem estar passando por isso.

Em março desse ano, todas as certezas que eu tinha na vida foram rechaçadas, estraçalhadas e jogadas num liquidificador. Parece exagero, mas não é. Eu me vi sem casa, sem dar aulas, sem perspectiva. Todos os planos que eu tinha feito nos últimos dois anos evaporaram no ar e eu senti o desespero do que é apostar todas as suas fichas (e quando eu digo todas, foram todas) em uma coisa só. Eu não sabia o que fazer da minha vida. Foi assustador.

O que é que eu fiz?

Eu surtei, claro.

Yep. Essa sou eu no deserto.

E tem a parte bonita e meio cinematográfica de dizer que fui para o deserto de Atacama, no Chile, repensar a minha vida. Lá, no meio das paisagens mais bonitas que eu já vi na minha vida inteira, encontrei alguma inspiração para escrever o segundo livro da série Metrópole, que, como vocês sabem, se passa num deserto. Foi maravilhoso pisar no chão de pedras secas e respirar o vento empoeirado, sentindo um pouco, talvez, do que Andrella e Midra sentem vagando por aquele mundo destruído. Numa reviravolta meio Comer, Rezar e Amar eu pus os pés em Belo Horizonte disposta a mudar e encontrar um rumo novo. E foi isso que eu fiz.

Eu assumi a decisão de me separar e a palavra divórcio veio caindo em cima da minha vida que nem uma âncora maldita, mas eu resisti: arrumei uma casa nova, comprei móveis, escrevi, fui pra terapia, reorganizei meu doutorado, o escambau. Foi tudo muito bem até a hora que não foi.

Não, não estou aqui para dizer que nos últimos meses a vida tem sido uma merda. Isso seria uma mentira. A vida foi ótima! Eu estreitei laços de amizade, vivenciei coisas incríveis, me joguei de cabeça no que me fazia feliz, conheci um novo amor, revi minhas atitudes e crenças. Só que tudo nessa vida tem um preço e a loucura foi que dessa vez é que eu não conseguia escrever.

Eu fiquei sem chão.

Caramba, escrever sempre tinha sido minha válvula de escape. Desde a infância, eu escrevia para passar pelos meus problemas, para sacudir a poeira e entrar naqueles mundos ficctícios onde eu me sentia melhor.

Até maio eu estava me forçando a escrever, mas sentia que não estava bom. Depois de um tempo, comecei a reavaliar o que estava escrevendo e vi que precisava dar um tempo. Eu não queria entregar qualquer coisa. Eu nunca vou ser uma escritora de entregar algo por entregar, então decidi pedir ajuda: Jean Costa, Karen Alvares e Diego Malachias tiveram longas horas de conversa sincera sobre narrativa, sobre ajustar as coisas, me ajudando a repensar coisas importantes. E sim, eu me senti bem melhor!

Então bora ajustar?

Eu não consegui. Sim, eu sabia exatamente o que eu precisava escrever e como eu precisava escrever, mas eu não conseguia. Eu me sentia paralisada, meio morta. Comecei até evitar o arquivo do Word. No fim das contas eu precisei aceitar o inevitável: minha depressão não estava me deixando fazer o que eu mais amo fazer no mundo.

Quando eu digo depressão, não estou falando de uma tristeza ou mesmo de um meme Escritor da Depressão que seja engraçado sobre writer’s block ou algo assim. Estou falando de uma doença real, diagnosticada por psicóloga e médica. Ao mesmo tempo que foi um alívio descobrir que o torpor que eu estava sentindo tinha nome, eu ainda sentia que tinha falhado: como assim? Eu me reergui, eu comecei de novo, por que agora no fim da linha eu não dei conta? E logo por cima com a minha escrita?

Porque sim.

(Escritores não gostam dessa resposta porque ela gera narrativas cheias de buracos. Mas às vezes a vida é cheia de buracos.)

E tudo aquilo que eu tinha que fazer? E novo Metrópole? E o Wattpad? Os vídeos, os contos, o mundo inteiro?
Foi hora de colocar o pé no freio e tratar da minha saúde mental, entender que tudo vai voltar com o tempo, com o devido tratamento. Nessa doença que suga toda a nossa energia, é melhor escolher uma tarefa apenas e parar de sentir culpa porque não dá pra fazer tudo.

É, não tem lançamento nessa Bienal. Uma parte minha se martirizou por muito tempo por não ter dado conta. No entanto, sei que vou entregar um livro bom, o livro que meus leitores e leitoras merecem. O livro que eu mereço escrever. Nessa Bienal estarei lá com Metrópole: Despertar, resgatando minhas energias literárias, trocando experiências com meus amigxs escritorxs e leitorxs.

Por que eu estou contando tudo isso agora?

Porque eu precisava responder o “E as novidades?” de vocês todos de uma forma honesta. Porque talvez algum escritor ou escritora aí esteja passando pelo mesmo problema.

Convivi com muita gente com depressão ao longo da minha vida e nunca achei que teria essa doença. É um mal muito pouco compreendido, muito estigmatizado, até por nós, pessoas supostamente lidas e cultas. Não é culpa nossa, ninguém tem depressão porque quer, nem escolhemos como ela vai afetar nossa vida. O que podemos fazer é entender, buscar tratamento e práticas que nos ajudem a sentir melhor.

E antes que vocês perguntem, sim, a vontade da escrita existe ainda e estou escrevendo. Devagar. Pouco a pouco, resgatando essa motivação de escrita, que sempre foi a motivação da minha vida.

Então é isso.

3 Comentários

  1. Melissa, seus amigos (e entre eles me incluo) estão com você e super entendem! Eu também não terei lançamento nesta Bienal, MAS – estarei lá divulgando os trabalhos anteriores e os de amigos, e, inclusive, as três coletâneas bacanas das quais você participou com muito brilho.

    Se a escrita emperrou, por outro lado você teve coragem de seguir em frente com a sua vida e encarar as coisas como elas são, e isso é difícil pra caramba.

    Fé na flauta, pé na pista e conte comigo. Sei que em breve você estará de volta à escrita, firme e forte!

  2. Puxa vida, Melissa! Você passou por uma barra, essas coisas sempre acabam afetando nossa vida, às vezes de modo bem inesperado, bagunçando aquilo que é mais importante para nós… mas, tenho certeza que todos os seus leitores (afff, ainda preciso ler Metrópole, aliás) entendem o seu momento e sabem aguardar pela ótima recompensa que virá mais pra frente. Cuide-se, vá devagar, respeitando o seu tempo e os seus limites, que isso é mesmo muito importante. Torço sempre pelo sucesso (em sentido amplo) de vocês que conheci na web, de coração, e tenho certeza de que você lançará o seu livro no momento certo – para você e para todos os que o aguardam.

    (Aliás, estou bem contente de estar na Magos com você, a Karen, o Charles, a Ana e etc!)

    Beijos!

  3. A gente nunca sabe quando podemos passar por coisas assim.
    Mas eu sei que levando o tempo que você precisar, quando voltar a escrever nos outros canais vai ser um trabalho ótimo e os leitores que estavam acompanhando antes as histórias iram retornar. Estava amando sua história no wattpad e assim que você voltar estarei lá =)
    Te desejo tudo de bom nessa nova fase.

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