Lands of Forever é o novo CD do Jean Costa. Um indie rock realmente alternativo: gravado e produzido pelo próprio Jean para deixar registrado suas experimentações musicais. Vou confessar que gostei bem mais desse álbum do que o anterior. Ele me surpreendeu e me divertiu.
Se você gosta de indie rock DIY influenciado por The Strokes e Arctic Monkeys, você vai gostar de Lands of Forever. Mas se você gosta de rock com guitarras melódicas, solos infinitos, virtuosismo e super produções fonográficas, é provável que esse não seja o CD pra você. Vamos saber onde estamos pisando.
Vamos lá?
Okay, comecei esse post dizendo que gostei mais de Lands of Forever do que o CD anterior do Jean, My Only Truth (2013). Por quê? Bem, o primeiro CD era certamente mais imaturo além de ter aquele gosto amargo de final de adolescência. Pra mim, ele era um compilado de músicas compostas ao longo de uma década e depois colocadas num CD como forma de registro (e não é que depois descobri que era isso mesmo?). Já Lands of Forever é mais interessante, mais audacioso ao mesclar baladas de violão com músicas mais animadas (sim, temos o Jean fazendo o um rap, minha gente).
Há mais diversidade musical entre as músicas desse CD e os vocais estão mais bem trabalhados. Além disso, ele faz sentido como um todo (pelo menos na minha leitura) e é cheio de referências à cultura pop como Doctor Who, Peter Pan, Alice no País das Maravilhas… É divertido achar todas elas nas letras. Sim, nós vamos encontrar músicas no estilo eu-te-amei-mas-você-não-deu-bola em Lands of Forever, mas elas são irônicas ou vistas como parte do passado. Certamente o ponto de vista de alguém que está numa outra fase da vida agora.
Vocês podem dizer que é marmelada fazer resenha de CD de um amigo, mas quem me conhece sabe que eu falo a verdade. Já resenhei livros escritos por amigos (confiram lá no Livros de Fantasia) e eu falo o que realmente achei. Quando o Jean me pediu pra resenhar o CD dele, provavelmente ele já sabia disso.
Então vamos ao que interessa.
“Our Secret Place” abre o álbum e foi de cara uma das minhas favoritas. Eu adoro pianos semi-repetivos com vocais mais suaves. Além disso, a letra é bastante onírica, o que eu normalmente curto. Uma ótima introdução que faz referência ao título Lands of Forever.
“Rock Me” é uma música boy-meets-girl, mas numa pegada mais animada. Eu gostei bastante e foi uma das que mais gostei. Só senti falta das guitarras serem mais altas. Pra mim, aí sim seria perfeito.
“If You Love Me” é pra mim a música que mais entrega as influências Avril Lavgnísticas do Jean. Eu facilmente imaginaria Avril gravando essa faixa. Ela fica entre aquele tom triste de gostar de alguém que não corresponde os sentimentos, mas ao mesmo tempo tem um refrão poderoso que não é um grito desesperado, mas sim de make-believe. “If You Love me I’ll never let you down”. A questão é que o eu-lírico sabe que isso nunca vai acontecer e de certa forma tudo continua okay. A música demorou para me ganhar, mas depois grudou que nem chiclete.
“16” é uma ode aos anos passados, à amizade. Uma música sobre crescer e seguir em frente, mas valorizando o que passou. Essa música pra mim marca claramente a diferença entre Lands of Forever e My Only Truth: mesmo olhando para o passado, o olhar é benevolente, com uma certa nostalgia. Essa música funcionaria super bem como single pois tem uma ótima letra e um ritmo marcante. Além, de claro, facilmente criar empatia com quem ouve. Afinal, que nunca teve 16 anos e algumas memórias no bolso?
“Don’t Let Me Go” talvez seja a faixa mais romântica do álbum e apesar de ela cumprir bem seu propósito ficando entre o confessional e melancólico, foi a música que menos gostei. Não que ela seja ruim, mas simplesmente não consegui me conectar a ela por algum motivo.
Da primeira vez que ouvi “Mean Girl” fiquei com sentimentos conflitantes: a música era engraçada por um motivo que eu não conseguia captar e o tom sexista parecia irônico de alguma forma. Ou será que não? Só depois fui descobrir o porquê de eu achar a música engraçada. Numa conversa, Jean me contou que “Mean Girl” é uma resposta a uma música da Avril. Ah sim, agora fez sentido. Com todos os “Hey hey hey” ao fundo.
“Meet Me Halfway” é uma referência clara a Doctor Who já no título. Talvez por isso eu tenha imaginado o Décimo Primeiro Doctor o tempo todo. Com a River. Hahahahaha Não sei se o Jean tinha isso em mente, mas nada tira essa imagem da minha cabeça toda vez que escuto a música. River e Doctor viajando no tempo atrás um do outro. O Doctor fechadão, mas apaixonado pela River, no fundo não acreditando que aquilo seja real… “Can’t you come and find me? … I guess I am not meant to live alone / Can’t you come and find me? /I’ve left my trails behind me”. É uma Doctor/River song. Sem trocadilhos, por favor.
“Somewhere Down the Road” é uma típica música Jean. Tanto na letra sobre um boy-meets-go-and-realizes-it’s-not-right quanto no violão marcadinho ao fundo. Talvez por isso não tenha sido uma música marcante do álbum pra mim, porque já tinha visto isso antes. É uma música boa, mas não me levantou do chão.
“Alone Again” é uma balada com um piano bonito no fundo, lentinha e com um vocal mais grave do que estamos acostumados em músicas do Jean. Gostei dessa experimentação mais lírica. Não acho que seja material para um single, mas é certamente uma faixa interessante justamente por sair do lugar comum.
“Watch Me Run” é o primeiro single do álbum e já está disponível no Youtube. Eu gosto bastante dela pelo tom animadinho, pelo rap inesperado no final e por de novo estar fora do lugar comum. Apesar da letra ser sobre uma experiência amorosa ruim, o tom é irônico e desprendido ao invés de amargurado, como bem anuncia o título “Watch me Run”.
“We Were Young” é minha favorita. Ela tem uma ótima pegada de violão e aquele clima crescente de música pra ouvir no carro que eu simplesmente adoro. Além do clima nostálgico-diversão anunciado no título.
“25” sempre me deixa em cima do muro. Da primeira vez que ouvi, gostei bastante. Da segunda, não gostei. Aí ouvi de novo e decidi que gostava da música. Mas depois, ouvindo no ônibus a caminho do trabalho, não gostei de novo. Tentando analisar o porquê disso, vim com uma teoria: talvez esse seja o efeito da faixa, nos deixar confusos. Afinal a letra vai falar de um jeito bem doctorwhoriano sobre ir pro passado, pro presente, sobre estar pronto sem na verdade estar. Além disso, é uma música sobre seguir em frente. E às vezes estamos dispostos a isso e às vezes não.
“Make-Believe” resgata o tema da primeira música, “Our Secret Place”, fechando o álbum com um círculo, algo que eu particularmente gostei. Afinal, Lands of Forever pode ser lido através da ideia de que o começo é o fim que é o começo de novo. O faz de conta (make-believe) é uma peça fundamental nesse processo. É preciso se re-criar.
“Two Seconds” é uma ótima hidden-track. Com uma batida marcante e uma letra cantada de forma rápida, é uma daquelas músicas que grudam.
Lands of Forever é um álbum de indie rock pra quem gosta de músicas mais cruas num estilo mais confessional. Sempre acho justo julgarmos um trabalho pelo que ele se propõe e esse álbum cumpre o que promete: músicas bem feitas, mesmo que gravadas em casa, num estilo nada virtuoso ou grandioso. Apenas algo sincero, feito com cuidado por alguém com sensibilidade e diversão.
De forma geral, gostei bastante do CD e ele está no meu celular, o que é prova de que realmente gostei, porque normalmente tenho preguiça de copiar arquivos. rs Recomendo! Só uma ressalva: como filha de produtor musical, não pude deixar de notar que os instrumentos estão mais baixos que o vocal. Okay, isso não é o fim do mundo, mas me incomodou em algumas músicas, especialmente as mais animadas. Acho que com os instrumentos um pouquinho mais altos, a sensação de crescente seria pronunciada.
O Jean Costa tem uma página oficial no Facebook e vocês poderão ouvir Lands of Forever a partir de 28 de agosto, quando o álbum estará disponível online gratuitamente.
Ah, e vamos ter uma promoção super mega blaster master envolvendo esse CD. Aguardem! * olhar misterioso *
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