Resenha de Filme: A Menina Que Roubava Livros

Um daqueles filmes que ficam com gosto de injustiçados do Oscar. A Menina Que Roubava Livros é um drama sensível e instigante, que consegue trazer um olhar diferenciado num filme de fundo histórico da Segunda Guerra Mundial. Prepare seus lencinhos, esse é um daqueles filmes que emocionam em todos os sentidos: roteiro, fotografia, grandes atuações.

O filme é a adaptação do livro homônimo de Marcus Zusack e foi dirigido por Brian Percival. E apesar da crítica ter taxado o filme como regular, eu gostei bastante.

A Morte conta a história de Liesel (Sophie Nélisse), uma menina que é adotada por um casal de meia idade. O cenário é a Alemanha nazista e o casal recebe uma pensão do governo para tomar conta de uma criança. Liesel não sabe bem porque está lá. Ela não sabe ler, ela não sabe expressar os sofrimentos que vem experienciando. Mas a rua Paraíso e seus habitantes se tornam testemunhas do amadurecimento de Liesel, emocional e intelectualmente.

Hans (Geoffrey Rush), seu pai adotivo, é o primeiro a mostrar algum afeto por Liesel e é com a ajuda dele que ela começa a desvendar as letras. A relação de Liesel com os livros, que começa no enterro de seu irmão, quando ela rouba um manual de coveiro,  passa a ser decisiva em sua formação. Através dos livros, Liesel consegue ver um mundo além daquele em que vive (pobreza, guerra, preconceito).


A relação de Liesel com Hans foi retratada de forma muito tocante no filme. Geoffrey Rush é mesmo um ator versátil. De pirata ganancioso a linguista excêntrico nas telas, em A Menina Que Roubava Livros ele conseguiu ser uma figura um tanto patética, um tanto inocente, mas de grande impacto. A simpatia com o espectador vem fácil e não é difícil se emocionar com as cenas de Hans.

O mesmo eu diria sobre a esposa dele, Rosa (Emily Watson). Funcionando como um contraponto emocional a Hans (afinal Rosa é mau-humorada, grossa e direta), Rosa consegue também criar um vínculo emocional com o espectador, esse feito devagar, quase que timidamente. O relacionamento de Liesel com Rosa, inicialmente tenso, é construído de uma forma muito crível ao longo do filme e ao final do longa conseguimos nos emocionar com o desfecho de ambas.

Talvez esse seja mesmo o ponto alto do filme: como as relações foram críveis. Todos os personagens, Rudy (o melhor amigo de Liesel), a mulher do prefeito, Max (o judeu escondido em seu porão), todos sem exceção, parecem reais aos olhos do espectador. Suas reações são verossímeis, assim como seus diferentes níveis de amizade com Liesel. A Menina Que Roubava Livros consegue ser muito mais que uma história triste passada na Segunda Guerra Mundial. Consegue ser um daqueles filmes que nos passam uma história pequena, mas que nos diz muito sobre o que significa ser realmente humano. Nos fala dos relacionamentos que mantemos, das pessoas com as quais compartilhamos nossas histórias. E em como elas ajudam a definir quem realmente somos.

O filme tem um ritmo lento, mas eu sinceramente não vejo isso como um problema. É um filme que funciona bem assim, pois essa é a sua premissa. No cinema em que eu estava, várias pessoas se levantaram e foram embora. Um dos motivos, eu imagino, seja talvez justamente esse passo mais lento. Sinto muito, mas quem esperava ver uma história de guerra e ação realmente deve ter se frustrado. Às vezes eu tenho a impressão de que a grande maioria das pessoas que vai ao cinema hoje em dia querem ver apenas explosões e cenas incríveis de ação, inclusive uma mulher atrás de mim perguntou se o filme era 3D. o.O

Outro motivo que imagino tenha espantado algumas pessoas do cinema foi a falta de explicação histórica do filme. Muitas películas com fundo de Segunda Guerra Mundial costumam ser quase didáticos, explicando a guerra e tudo mais. A Menina Que Roubava Livros não é assim. Pelo contrário, o filme assume que seu espectador sabe o que aconteceu durante a guerra, entenda a situação dos judeus e como era o clima político na época. Os adolescentes que saíram da sala podem não ter entendido o que estava acontecendo. Principalmente porque durante a sessão, numa das cenas de perseguição política mais tocantes do filme, dois deles começaram a rir da situação pela qual o personagem passava. #tosco

Em termos de adaptação, achei que foi excelente. Postei pra vocês aqui no blog minha resenha do livro A Menina Que Roubava Livros, mas não vou cair na falácia de ficar comentando o que tem no filme e o que tem no livro. Pra mim, uma adaptação boa é aquela que consegue se segurar na tela: história com começo, meio e fim. E esse filme conseguiu existir como uma obra independente de excelente qualidade. Além do roteiro, fotografia, figurino, trilha sonora, tudo estava muitíssimo bem feito nesse filme.

Talvez o filme tenha desagradado tanta gente porque não é o tipo de história em que há um herói no final. Não, o exército americano não salva todo mundo, pessoas morrem, existe sofrimento que não necessariamente leva a alguma recompensa. Será que como público estamos desacostumados a isso?

Pensemos.

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2 Comentários

  1. Adorei sua resenha e a reflexão que você fez dentro dela, Melissa. Parece que o público só vai ao cinema hoje em busca de adrenalina, pirotecnia e correria. E os filmes estão refletindo isso. Acho que esse é o ponto que tanto me decepcionou em A Desolação do Smaug, parecia que Tolkien havia ido embora para dar lugar a Hollywood…

    Estou querendo ver esse filme faz um tempo, tenho a sensação de que vou gostar pela sua resenha. Infelizmente eu não li o livro e nem sei quando vou ler por conta da pilha imensa de coisas não lidas 🙁

    • Oi Liége, sempre bom te ver por aqui. 🙂

      Pois é, eu sempre acho chato quando me deparo com essa situação de perceber que pra muita gente cinema é sinônimo de alguma diversão de efeitos especiais e só. Pronto e acabou. Acho triste, ainda mais com filmes tão sensíveis quanto A Menina Que Roubava Livros. Inclusive lembrei muito de você quando fiz essa resenha, justamente porque fiz a conexão com O Hobbit também. Outro filme que se perdeu por conta de efeitos…

      Assista o livro sim, Liége. Vale a pena. Quanto ao livro, super entendo esse lance de ter uma pilha sinistra pra ler. hahahaha Normal. Mas é um livro que vale a pena. Quem sabe quando rolar uma promoção dele ou coisa assim você não compra e o deixa despretensiosamente na pilha?

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