Essa semana fui ao cinema assistir o instigante A Menina Que Roubava Livros, adaptação do livro homônimo de Markus Zusak. Mas antes que eu registre aqui minhas opiniões sobre o filme, gostaria de republicar um texto que escrevi sobre o livro, datado na época que o li. É uma resenha (?) de setembro de 2007 (putz, 7 anos quase!) que foi publicada em um dos meus blogs antigos e tem o nome de “Assim como Liesel”.
Uma viagem no tempo das resenhas. Veja o que meu eu de 7 anos atrás tinha a dizer sobre esse livro inesquecível e sobre boas histórias.
Eu pensei que não escreveria sobre esse livro tão cedo, mas acho que algumas coisas estão além do meu controle. Uma delas é a minha Vontade de escrever. Vontade com letra maiúscula, porque ela tem vida própria…
Tudo bem que a Vontade não veio do nada – como muita gente inocentemente acredita por aí -, mas não deixou de vir inesperadamente. E isso tudo por causa de dois segundos numa tela de televisão. Pois é, era o Markus Zusak na bienal do livro; meu pai gritou e eu fui correndo ver. Nâo sei porquê, mas foi uma imagem tão bacana… O Zusak lá com aquela cara de bom rapaz, um monte de gente em volta, a promoção do livro logo atrás… A Vontade não chegou naquela hora, claro que não – criaturinha voluntariosa ela é – mas ficou pregada na minha orelha, falando baixinho. E agora ela resolveu gritar… então aqui estou.
A menina que roubava livros é envolvente. Não tem outra palavra para descrever. Você começa a ler, estranha de início, e depois é completamente absorvido pela atmosfera mágica que esse livro cria. A história se passa na Alemanha Nazista como tantas outras, mas tem seu toque especial. A narrativa é fragmentada, cheia de idas e voltas. A ordem não é cronológica. A Morte – narradora de todos os eventos – acaba se tornando mais uma das personagens com seus comentários vivos (ironicamente) e pontuais. As personagens… ah, as personagens são a alma do livro! Merecem um parágrafo à parte…
Todos eles são bem construídos, complexos naquela atmosfera de simplicidade da Molching. O casal Hubberman, a mulher do prefeito, Max, os Steiner… os Steiner. Isso me faz ter que falar de Rudy. Meu favorito. Rudy é… Rudy. Simples, decidido, com muita força de vontade. O namorado que a menina nunca teve, é um título lindo para ele. Acho que não é possível alguém ler A menina que roubava livros sem cair de amores por Rudy Steiner. Por sua humanidade. Pelo modo de como ele se aproxima tanto de nós… e de Liesel. Liesel Meminger, a menina que roubava livros. Que encontrou a morte de três formas tão impactantes, que a própria Morte resolveu contar a história dela.
Eu me impacientei um pouco com as palavras em alemão de início, mas depois percebi que não havia vocativo melhor para alguém naquele livro que não fosse Saurkel… Engraçado como a gente consegue entender uma outra língua sem realmente saber essa língua. Bacana como isso foi mostrado no livro. Faz parte da própria narrativa. Faz parte do ritmo da história.
Interessante também é o modo de como a história se constrói de outras história. É um livro contado por alguém que leu outro livro (no caso, a Morte é quem lê); e este livro, por sua vez, foi escrito originalmente por Liesel, baseada no livro de Max. Planos interessantes, não? Isso sem levar em conta os planos das personagens mais secundárias…
Podem dizer o que quiserem, mas A menina que roubava livros é literatura da melhor qualidade. Se teve um final típico e cliché, se foi o reconto de uma realidade, se criou personagens apenas para cumprir uma função emocional, se foi ruim por qualquer desses argumentos – ou outros – de teóricos literários, não importa. Isso aqui é literatura da nata. Mostra o melhor da humanidade, o melhor do ser humano e de uma forma naturalmente verdadeira, tão nitidamente verossímil. Literatura.
É um texto fragmentado, mas não consigo imaginar outro modo de falar sobre este livro. Só quem lê sabe. Além do mais, a Vontade é feita de algumas nuances que às vezes a gente não entende… A Vontade é fragmentada lá à seu modo. Conta suas histórias do jeito Dela.
Assim como Liesel.
14 de setembro de 2007.
Pingback:Resenha de Filme: A Menina Que Roubava Livros | Mundo Mel