Carta para meu eu de 14 anos

Esse post era pra ter ido ao ar no meu aniversário (9 de agosto). Mas por causa do apocalipse bloguístico, vamos agora, um mês depois.

Olá eu de 14 anos. Hoje é nosso aniversário. Pois é, o tempo passou, às vezes devagar, às vezes rápido demais e cá estamos chegando aos 24.

Eu queria te falar algumas coisas. A maioria delas não vai te ajudar em nada e só vai te deixar confusa, mas sabe, eu gosto de você, eu de 14 anos. Gosto do seu jeito confuso e ainda meio topetudo. No fundo, você é uma boa menina. Só está perdida. Mas quem não é perdido aos 14 anos, hein?

Acredite se quiser, aos 24 anos você ainda tem um cabelão imenso. Mas não, não foi do jeito que você esperava: você não deixou crescer durante 10 anos pra imitar a Alanis Morissette. Na verdade aos 19 você cortou tudo (é, eu sei que parece loucura pra você, mas pro nosso eu de 19 fez todo o sentido). E quando eu digo cortou tudo, eu digo tudo mesmo, ficou na orelha. Mas no último ano o cabelo cresceu numa velocidade assustadora e agora ele está longo. Parecido com o seu aí da época, mas mais macio e brilhante. Sabe qual era o segredo? Você não vai acreditar. É condicionador! Condicionador, minha filha, e você aí passando tudo quanto é coisa no cabelo.

Sabe esse seu jeito elétrico? Essa coisa hiperativa e descontrolada? Pois é, temos isso até hoje. Mesma coisa pra falas confusas e pra timidez fora de hora. Ainda usamos óculos 90% do tempo, mas temos um par de lentes de contato para ocasiões especiais. Ah sim, não somos tão xiitas agora. Tentamos ser mais ponderadas com as coisas e viver de uma forma mais zen. A gente faz até acunpuntura (e fizemos terapia durante uns anos também rs).

Ainda vivemos enfiadas em livros e em computador. Ainda choramos no final de Star Wars VI: O Retorno de Jedi e surtamos com Harry Potter. Surtamos não. Ainda somos enlouquecidas com Harry Potter. A gente relê todo ano, quase que religiosamente, e chora quando o Dobby morre. Ai meu Deus, eu de 14 anos, eu esqueci que você não leu o final de Harry Potter ainda!!! Sorry pelo spoiler, mas sim, o Dobby morre. Paia.

Sabe as fanfics? Isso nos levou a criar nossa próprias histórias. E o pessoal que você conhece aí dessa época está com a gente até hoje. Aliás, grandes amigos aí desses 14 anos continuarão sendo grandes amigos. E você nunca vai imaginar quem. hahahahaha Mas eles farão toda a diferença pra gente agora.

Mas ainda tem bomba, criatura. Nós agora adoramos dançar. É sério. Inclusive fazemos aula de ballet clássico e dançamos dança de salão com marido (ah sim, tem isso, temos um marido. E não, você ainda não o conheceu). Somos felizes fazendo atividade física, acredite se quiser. Gostamos de passeios ao ar livre, principalmente de andar no mato, de fazer Jump Fit, de alongar todo dia de manhã e de sair pra dançar pelo menos uma vez por semana. Ritmos sociais favoritos? Lindy Hop, soltinho e bolero. Sabe esse povo aí que fica te zoando porque você é desastrada e não sabe fazer nada? Eu de 14 anos, tenha em mente que um dia vamos subir numa sapatilha de ponta e que esse povo vai engolir tudo que falou. A gente tem um lado meio irônico agora também. hahahahaha

A vida fica melhor, menina. Fica menos dramática, menos adolescente. Algumas coisas que parecem tão importantes depois não ficam mais. E você vai ver que muita gente popular dessa época hoje é simplesmente waste of space. Todo mundo que dizia que essa é a melhor época da vida estava mentindo. Não é não.

Adolescência é um troço estranho. É uma passagem estreita e a gente só sai dela carregando o que é mais essencial: e eu de 14 anos, eu trouxe de você esse jeito espontâneo, essa vontade de viver de livro, essa maluquice de sair pulando. Estranhamente, essas foram as coisas que mais valeram.

Só não tenha tanto medo, querida.


15 Comentários

  1. Então, eu tô aqui me esforçando pra lembrar se a gente se conheceu foi em 2003 ou 2004. De qualquer jeito, eu conheci a Melissa de 14 anos, e foi como se eu magicamente tivesse conhecido alguém que me entendia perfeitamente sem nunca ter me visto. Uma graduação e uma madrinhice de casamento depois, talvez prestes a virar pesquisadoras da mesma coisa, estamos aqui, formes e fortes. Já foram dez anos, gente? Nem parece.

    • Caramba… eu acho que foi 2003, viu. Pelo menos os primeiros contatos… Mas tenho que checar nossos e-mails pra ter certeza. Você é uma das amizades dessa época que ficou até hoje. Eu ainda me surpreendo em como nós conseguimos ser tão diferentes e ao mesmo tempo tão iguais. Nós somos um paradoxo sustentado pela TARDIS! É a única coisa que consigo pensar.

      Foram-se dez anos. E eu fico tipo chocada com isso. Só que às vezes faz sentido.

  2. Ai, Mel, que coisa mais linda, você me fez chorar, droga! =/
    Tão bonita a carta. E tão legal o que você falou da adolescência. É isso mesmo, a gente passa por um caminho estreito e só leva o que realmente importa. Não é a melhor fase da vida, a melhor fase vem mais tarde.
    Que bom ver teu blog de volta, saudade dele. =)

    • Poxa, gente, fiquei surpresa por vocês terem gostado tanto desse texto. Tinha até considerado não postá-lo! Fico feliz que vocês tenham se emocionado. 🙂

      Realmente, a melhor fase da vida está longe de ser essa.

      Saudade de vocês comentando aqui!

  3. Que linda carta, Melissa. Poxa, eu me lembro de mim mesma há 10 anos. Eu estava completamente confusa e perdida, hahaha. Mas os 16 foram uma época bastante marcante para mim. Concordo com você quando diz que a adolescência não é a melhor época da vida. É uma época confusa, estranha, e dolorida! Ao menos para mim foi. A melhor fase vem depois, com certeza… quando os aprendizados da adolescência começam a se concretizar e a gente encara a vida com mais traquilidade…

    • Uma coisa que você falou é verdade: muitos aprendizados da adolescência acabam se concretizando depois. Principalmente para quem está disposto a encarar a vida de uma forma mais tranquila e menos competitiva.

  4. Caramba, Mel, que ideia ótima!
    E comove, pode ter certeza… Porque a adolescência nem de longe é a melhor fase da vida. Mas sem ela, como descobrirmos nossa essência, né?
    Pode ver que tudo o que era visceral continua aí. As inseguranças que deram lugar a coisas bem mais proveitosas.
    Às vezes eu leio uns poemas ou relatos que escrevia e gostaria de dizer o quanto ia demorar, mas um dia ficaria tudo bem… Quando nos dizem isso a gente nunca acredita, né? Principalmente quando somos tão novas.
    Sim, as pessoas que se acham demais enquanto adolescentes geralmente se tornam uns zeros à esquerda! Isso sim devia ser mais bem divulgado!

    Beijos

    • Sim, a gente descobre nossa essência é nessa época. O que gostamos, o que realmente queremos, até um pouco de quem somos… Essa coisa de reler produtos da adolescência é mesmo interessante. Eu nunca fui de escrever poemas, mas escrevia textos aleatórios. Quando leio o que sinto é um grande alívio, algo do tipo “já passou”.

      Quanto às pessoas que têm top da vida na adolescência, realmente, elas se tornam zero zero na vida adulta. Os populares da mminha época de escola hoje têm empregos ruins, tiveram filhos muito cedo ou são super frustrados. E realmente, isso devia ser mais divulgado.

  5. Pingback:Coisas boas da semana | Memórias da Pedra do Sapato

  6. Muito linda a sua carta Mel, muito sensível. Quantas coisas mudaram, né?
    Eu convivi com o você nos seus 14 anos e…bem, nessa idade você não gostava muito de ter uma irmãzinha de 11 anos. Você já era adolescente e eu ainda queria brincar de boneca, e ae como faz? Não faz né. rs. Você não me dava muita idéia não. Na escola cantava, conversava…em casa ficava séria, calada, atrás de um livro ou na frente de um computador. Eu querendo dormir e você virando as madrugadas nos fóruns de Harry Potter.
    Tá aí, Harry Potter. Uma coisa que nos unia, livros que você lia pra mim em voz alta fazendo as vozes dos personagens =)

    Ah Mel, coisas da vida né…Mas eu sempre te amei. Você sabe. Amo você com 14, 24, 34…84.
    Irmã é irmã.

    • Poxa, honey, fiquei muito emocionada com o seu comentário. Realmente, nessa época Harry Potter era o que nos unia. Mas saiba que mesmo no meio daquelas coisas todas daquela época, eu sempre te amei muito. Você é minha irmã querida, também vou estar com você em qualquer idade.

      E temos muitas memórias boas de brincar na casinha, de dançar, de inventar brincadeiras loucas… E eu serei eternamente grata por você ter sido a minha primeira leitora crítica. Com você é que eu comecei a me desenvolver como escritora.

      • Melissa, o lance da mudança de idéia nos dá o que pensar.

        O post sobre a existência ou não da inspiração também.

        Então, após 1 ano e maio desde o seu último texto narrando a história das Runaways…

        Só pra confirmar: você mudou de idéia ou vai mesmo concluir a saga?

        A gente tá esperando até hoje.

        Só aguardando sua inspiração brilhar para o “grand finale”.

        Nessa época, Runaways era o que nos unia.

        Creio que posso falar em nome de todos os seus fãs aqui: espero que essa união não tenha mudado.

        “Mama, We’re All Crazee — NOW!”

      • Melissa, o lance da mudança de idéia nos dá o que pensar.

        O post sobre a existência ou não da inspiração também.

        Então, após 1 ano e meio desde o seu último texto narrando a história das Runaways…

        Só pra confirmar: você mudou de idéia ou vai mesmo concluir a saga?

        A gente tá esperando até hoje.

        Só aguardando sua inspiração brilhar para o “grand finale”.

        Nessa época, Runaways era o que nos unia.

        Creio que posso falar em nome de todos os seus fãs aqui: espero que essa união não tenha mudado.

        “Mama, We’re All Crazee — NOW!”

        • Oi Ernesto, fico feliz que tenha gostado dos posts!

          Então, eu não parei com os posts de Runaways não! Runaways é uma paixão, escuto todos os dias, e se não postei até hoje mais da história delas é porque infelizmente não tive tempo e/ou comecei outros projetos. Mas de modo algum vou deixar vocês na mão! Tenho um rascunho do post sobre 1978 aqui e vou ver se finalizo e posto o mais rápido possível!

          Obrigada pelo apoio!

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