4 Coisas que você precisa saber sobre Cherry Bomb

Rebeldia. Agressividade. Explosão. O maior clássico das Runaways é possivelmente também o maior ícone do rock feito por mulheres. A música de 1976  é, 36 anos depois, inspiração milhares de jovens. Esse post quer agora mostrar 5 aspectos de ´Cherry Bomb´ (envolvendo composição, significado e curiosidades) que você precisa saber.

Conheça “Cherry Bomb”!

Composição

No verão de 1976, as Runaways procuravam uma nova vocalista/baixista para substituir Miki Steele (você fica sabendo mais dessa história aqui). Numa boate, o então empresário da banda Kim Fowley e a guitarrista Joan Jett vêem as gêmeas Cherie e Marie Currie num canto. O visual chama a atenção dos dois a ponto de convidarem Cherie para um teste. A loira não era baixista, mas arriscou cantar. Na hora do ensaio, no entanto, não sabia nenhuma música que as outras garotas soubessem tocar.

Foi nessa hora que Kim Fowley e Joan Jett foram para uma outra sala e fizeram “Cherry Bomb” em menos de uma hora. Joan deu a pegada na guitarra e Fowley foi o responsável pela letra. As outras integrantes da banda aprenderam tudo na hora e Cherie fez seu teste de vocalista com uma música própria, inspirada nela mesma. Obviamente ela foi aceita e se tornou vocalista principal da banda durante dois anos.

Dakota Fanning interpretando Cherie Currie  no filme The Runaways.

Título

“Cherry Bomb” (“bomba de cereja”, em português) é um trocadilho com o nome de Cherie. Mas vejam que é um trocadilho sonoro, uma vez que Cherie em francês significa “querida” e não tem nada a ver com cereja. Mas a ideia é bem imagética também: uma bomba de cereja. Algo que é doce, aparentemente delicado, mas que explore. Ou seja, é a reunião de uma aparência frágil com algo potencialmente perigoso. Tudo a ver com a imagem que Cherie criou para si mesma na banda. Inclusive, a própria diz em sua autobiografia que no palco se sentia a Cherry Bomb e não mais Cherie Currie.

Essa expressão “Cherry Bomb” também passou a ser associada à sensualidade. Infelizmente, muito disso acabou indo para caminhos que não tinham a ver com ideia de rebeldia original, e sim apenas para objetificação do corpo da mulher. Experimente digitar “cherry bomb” no google images só pra ter uma ideia do que estou falando.

Cherie Currie como Cherry Bomb no palco.

Performance

No contexto pós-revolução sexual dos anos 70, uma garota de lingerie cantando “I´m your ch-ch-ch-ch-Cherry Bomb” tinha um efeito bastante diferente da nossa visão hoje. Estamos acostumados a mulheres semi-nuas na música o tempo todo, mas a coisa não era bem assim trinta, quarenta anos atrás. Aliás, havia poucas mulheres na música, que dirá então no rock. Uma adolescente de lingerie numa banda de rock não era apenas uma adolescente de lingerie numa banda de rock: era um ato político.

Obviamente que não havia muito acordo em relação à performance de “Cherry Bomb” dentro da própria banda. Lita Ford, por exemplo, era contra o visual lingerie dizendo que isso tiraria o foco da música. Mas vamos lembrar que foi a mesma Lita Ford que nos anos 80 tirava fotos promocionais com a bunda de fora ao lado de uma guitarra. Joan Jett foi outra que na época (ao contrário do que implica o controverso filme The Runaways – Garotas do Rock) não gostou nada dessa exploração sexual no visual de uma música que já era sexualmente libertadora/chocante. Parecia uma redundância.

Cherie tem várias versões ao longo da vida sobre a conexão entre a lingerie e a música. Algumas vezes disse que foi algo espontâneo (que ela viu na loja e comprou), outras que a banda inteira teve a ideia simultaneamente e até mesmo que foi Kim Fowley quem disse para que ela usasse um corpete. Como sempre, Cherie varia seu depoimento o tempo todo e é difícil saber no que acreditar. Kim Fowley, na época empresário da banda e autor da letra, disse que considerava o corpete algo “esportivo” e não sexual. Esportivo? Aham. Sei.

Objetificadora demais para agradar as feministas da época e pra frentex demais para os conservadores da época, a performance de “Cherry Bomb” ao vivo ficou num verdadeiro limbo durante a época. Talvez até hoje.

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=pMDn6V7ZLhE]

Eu pessoalmente não gosto do corpete na performance de “Cherry Bomb” justamente pelo fato de Cherie ser uma pessoa tão ambígua. Eu prefiro que esse tipo de ação seja feita de forma consciente. Se é pra chocar, então me choque com coerência. Me afino mais com a postura da Joan que foi a de sempre ficar longe da objetificação.

Covers

“Cherry Bomb” ganhou ao longo dos anos vários covers legais. Vamos lá:

Joan Jett

Okay. Ela é autora da música, então isso classifica como um cover ou uma versão? Enfim. É definitivamente legal. A música ficou mais lenta para que os barulhos de explosão de bomba pudessem ser inserados ao longo da faixa. De acordo com Joan, era um efeito que eles queriam para que a grande explosão no final parecesse progressiva.

Esse cover está no álbum “Glorious Results of a Misspent Youth” da banda Joan Jett & the Blackhearts.

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Miley Cyrus

Freak. Mas essa ídolo teen usou a música várias vezes em suas turnês e inclusive tocou com a própria Joan Jett no programa da Oprah! (coisas que nunca vou entender)

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=pB7akoO7yxY]

GIRLS

Uma banda japonesa super inspirada em The Runaways e no sucesso que a banda fez nos anos 70 no Japão.

Infelizmente, o vídeo que mostrava a banda tocando foi retirado do youtube. Se alguém encontrar um novo link, por favor, me avisem. É bem legal ver as japonesas dos anos 70 tocando uma música dessas.

JoJo

Esse cover foi usado no filme RV com Robin Williams. JoJo interpretava a filha revoltada e cantava essa música.

A cena no filme é bem engraçada. Ela inclusive faz o solo com a boca. hahaha

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=nytN9Xj7QfE]

Girl in a Coma

Essa banda fodástica (conheça mais sobre elas aqui) também já fez cover de “Cherry Bomb” em seus shows. Inclusive, contando com a própria Cherie no palco.

O que eu gosto nesse vídeo é que a Cherie erra música. E a cara da vocalista Nina é hilária na hora que isso acontece.

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=r7bEYsV-_2o]

The Dandy Warhols

Eles fizeram essa versão para o tributo a The Runaways lançado no ano passado. Clique aqui para saber mais.

Infelizmente o vídeo da banda está agora no modo PRIVADO e não conseguimos acessar. affe

Dakota Fanning & Kristen Stewart

Para o filme The Runaways, Dakota e Kristen tiveram que tocar e cantar de verdade. Os produtores do filme inclusive lançaram músicas com as duas na trilha sonora do filme e produziram um clipe para “Cherry Bomb”.

Existe muita crítica, principalmente em relação à Dakota, que dizem ter uma voz um tanto fraca e muito diferente do timbre da Cherie. Eu concordo, acho que a voz realmente não parece, mas achei que ela se esforçou bastante. Sem contar que acho que devemos relevar, já que ela não é uma cantora e sim uma atriz. Se poderiam ter encontrado alguém parecido, poderiam, mas foi a Dakota e pra mim não ficou tão ruim assim. A Kristen, apesar de ter encarnado Joan Jett, não canta bem também não.

[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=aNNp5GyzlKc]

Tem mais músicas das duas como cover de Runaways. A mais parecida de todas pra mim é “Dead End Justice”. Dá pra ver clicando aqui.

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Óbvio que existem milhares de cover de anônimos e bandas menos famosas no Youtube, mas coloquei esses que considero mais interessantes/engraçados/legais.  Tem mais algum cover registrado que vale a pena ver? Se alguém souber, acrescenta ali nos comentários.

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Pessoas, como o blog mudou de servidor, os posts antigos estão sem imagem. Eu sei que é chato, mas é que estou atualizando tudo (manualmente) aos poucos, okay?

E o que é “Cherry Bomb” pra vocês?

10 Comentários

  1. 5 – PIADA INTERNA.

    “ch-ch-ch-ch-Cherry Bomb” é uma piada com “ch-ch-ch-ch-Changes”, o refrão de “Changes” de David Bowie, o supremo ídolo glitter e modelo de Cherie Currie.

  2. 6 – INTENÇÃO.

    HUMOR é a chave de tudo. Cherie Currie é uma iluminada. Ela sabe que rock n roll é irreverência juvenil. E o corpo dela adolescente ainda era o físico de uma pré-adolescente.

    Se fosse Lita Ford naquela roupa, o efeito seria completamente diferente. Seria excitante, mas vulgar.

    Aquela roupa, com aquela intenção de chocar e fazer rir, foi feita sob medida para a Cherry Bomb.

    Cherie magrinha de roupa sensual é uma piada ótima.
    Ela sabe que NÃO era particularmente excitante, mas que é engraçado, é. Engraçadíssima.

    Ela faz rir da própria afronta e do espírito infantil de querer chocar os adultos. Por isso mesmo ela só vestia aquilo para cantar “Cherry Bomb”. Lembre-se: é uma canção-manifesto. Um divisor de águas na História do Rock, da Música, da Cultura.

    E se ela desagradou tanto liberais como conservadores, melhor ainda. O VERDADEIRO Rock & Roll é afronta, choque, confronto. Quem quer agradar a todos são os posers malas pop stars que nem rock fazem. As grandes armações da indústria. As “unanimidades” do sistema que a mídia nunca ataca, pois foram geradas por ela. Dos Beatles ao U2. De Madonna a Lady Gaga.

    Yes, você acertou em cheio: assim como o sexo entre Julia e Winston Smith em “1984” de George Orwell, a libertação sexual é mesmo um ato político, mesmo sem intenção de sê-lo.

    A garota magricela de corpete não caiu no limbo. Entrou na Eternidade. É uma imagem tão icônica quanto Johnny Rotten de roupas rasgadas ou Marlon Brando de jeans e camiseta. Só que ainda mais criativa, inovadora, original. E sobretudo divertida. Mestre Bowie ficou orgulhoso. Imortal.

    • Okay, até consigo pensar que existe um certo humor numa garota magrela de lingerie, mas não podemos ser ingênuos e pensar que não é uma imagem sensual/sexual. Inclusive, Cherie recebia inúmeras propostas para posar nua e para ter encontros sexuais. Então ela era vista sim como um sex symbol. Não podemos negar que Kim Fowley fez de tudo pra associar as Runaways com sex appeal, até porque elas fizeram inúmeros ensaios fotográficos insinuantes e de apelo mais sexual.

      Cherie é um limbo na cultura feminista justamente por ficar nesse meio termo um tanto quanto confuso: é piada ou não? é protesto ou não? Inclusive, a própria Cherie é uma pessoa muito ambígua e sempre deu declarações paradoxais ao longo de sua carreira.

      Por conta disso tudo, fico com o pé atrás com o lance do corpete.

  3. Ernesto Ribeiro

    Hum.. certo. Tem razão. Na verdade, é ambos: Piada e Protesto.

  4. Ernesto Ribeiro

    Outra referência velada a Bowie: na letra de “Heartbeat”, uma referência a “Drive-In Saturday”:

    “You drove away / that Saturday”…

    Cherie é elegante nas citações. Ela evita cair na tentação do óbvio, que seria citar as canções mais famosas da encarnação mais célebre de Bowie, o alien Ziggy Stardust.

  5. Eu acho que as duas cantaram muito bem, apesar de não terem timbres parecidos com os originais. Adorei cada segundo do cover de Kristen e Dakota.

  6. Em minha visão, Cherry Bomb significa o poder feminino. As mulheres, afinal, podem fazer tudo e mais um pouco. Acho que foi isso que Cherrie quis expressar ao vestir o corpete: Tamanho poder e influência feminino.
    Bem, não sei explicar direito, mas é isso que eu acho xD

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