Esse post faz parte do projeto Born to be a Runaways fan. A idéia é oferecer informação de qualidade sobre The Runaways para o público que não lê em inglês. Todas as informações contidas nessa série de artigos sairam de fontes e depoimentos ligados aos membros da banda. A bibliografia em inglês está no final desse post.
Em 1975, Joan Jett (então Joan Larkin) conheceu o controverso produtor musical Kim Fowley na saída de um clube noturno (Rodney´s English Disco). Joan, então com 16 anos, disse que tocava guitarra e que gostaria de formar uma banda só de garotas. Foi através de Kari Chrome, uma garota de 14 anos com quem Joan costumava sair às vezes para baladas glam rock, que Joan ficou sabendo de Fowley, que achou a idéia bacana e perguntou se Joan tinha uma demo. Ela nem sabia o que era uma demo. Vale lembrar que Kari Chrome contribuiu com algumas letras para The Runaways, entre elas “Thunder” e o clássico “California Paradise”.
Alguns dias depois, Sandy West (então Sandy Passavento), também com 16 anos, abordou Fowley na saída de um restaurante (The Rainbow) em Hollywood dizendo que tocava bateria em uma banda com garotos, mas que queria tocar numa banda só de meninas. Lembrando da conversa com Joan anteriormente, Kim Fowley deu o telefone de Joan para Sandy.
Quando Joan Jett tomou três ônibus até a garagem da casa de Sandy West o início de The Runaways começou a ser traçado.
Nós simplesmente sentimos aquele clique. Nós fechamos na hora – disse Joan Jett – Ela era tão simpática e extrovertida. Ela era como eu: era um tomboy, amava esportes, era durona. Eu não acreditei em como ela tocava. Ela era tão sólida, forte, poderosa, uma baterista muito boa. E eu não quero nem dizer boa por ter 16 anos – por ter qualquer idade! Ela tinha aquela puta qualidade e era poderoso!
http://www.laweekly.com/2010-03-18/music/the-runaways-wild-thing/
As duas garotas ligaram para Fowley e ele, ao ouvir toda aquela energia saindo apenas de uma guitarra e uma bateria, resolveu começar a banda e sair procurando garotas que tocavam algum instrumento em clubes noturnos e festinhas em L.A.
A primeira garota a entrar para as Runaways foi Micki Steele (então Michael Steele) tocando baixo. Durante os primeiros meses, a banda foi um trio. Juntas, Sandy, Joan e Micki gravaram uma demo que foi lançada em 1991 sob o título de Born to be Bad. Micki cantava solo na maioria das músicas.
Título: Born to be bad
Lançamento: 1991
Gravação: 1975
Gravadora: nenhuma (coleção de demos)
As músicas marcadas de roxo apareceram em albums posteriores da banda (regravados):
1. Yesterday´s Kids (Kari Chrome – informação não confirmada)
2. Is It Day or Night? (Kim Fowley)
3. Let´s Party Tonight (sem informação)
4. All Right Now (A. Fraser / P. Rodgers) Cover da band inglesa Free.
5. Thunder (Mark Anthony / Kari Chrome)
6. Rock & Roll (Lou Reed) Cover do Velvet Underground.
7. American Nights (Mark Anthony / Kim Fowley)
8. California Paradise (Kari Crhome / Kim Fowley / Joan Jett / Sandy West)
9. I´m a Star (sem informação)
10. You Drive Me Wild (Joan Jett)
11. Born to Be Bad (Kim Fowley / Micki Steele / Sandy West)
12. Wild Thing ( Chip Taylor) Cover do The Troggs que é na verdade um cover de The Wild Ones.Opinião: A qualidade da gravação não é boa e vale lembrar que a banda estava bem no início e ainda experimentava com os instrumentos. No entanto, é interessante ouvir o início de tudo. Principalmente pela chance de ouvir Micki Steele nos vocais. Clássicos como “You Drive Me Wild”, “California Paradise” e “American Nights” em suas primeiras versões já soam muito bons. Mas se é a primeira vez que você escuta The Runaways na vida não é uma boa forma de se começar. Comece pelo Live in Japan.
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=v4HaebgDlAA]
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=7ra6nx4XiFA&NR=1&feature=fvwp]
A primeira demo da banda foi gravada em agosto de 1975 e logo após a gravação Lita Ford (então Carmelita Ford) entrou para a banda. Lita originalmente fez o teste para o posto de baixista. No entanto, durante um intervalo, ela pegou a guitarra e começou a tocar com Sandy:
“Eu entrei e Sandy e eu nos topamos logo de cara” – disse Ford – “Eu comecei a tocar uma música antiga do Deep Purple, ´Highway Star´. Ela sabia a música inteira e eu nem acreditei. Nós só tocamos. E assim que terminamos era tipo “Eu te amo”.
http://www.laweekly.com/2010-03-18/music/the-runaways-wild-thing/
No documentário Egdeplay, Lita diz que Joan fez um “Isso foi incrível” quando ela e Sandy terminaram de tocar. Como o posto de baixista já estava ocupado, Lita tornou-se a guitarrista solo. Dona de um temperamento difícil e frequentemente classificado como agressivo, a loira com então 17 anos tinha uma habilidade fora do comum para a guitarra. Ainda no documentário mencionado, Lita diz que sempre teve em mente a imagem que Kim Fowley lhe passou no telefone chamando-a para o teste: fama. Dirigindo de Long Beach até L.A., ela deu a chance da banda melhorar a qualidade musical explorando solos e fazendo contrapontos entre guitarra base e solo.
“Meus pais me disseram para correr atrás disso. Minha maior indicação de que meus pais estavam me apoiando foi quando Kim Fowley me ligou e me passou a idéia de me juntar a The Runaways. Eu desliguei o telefone, virei pra minha mãe e disse “Quem é esse cara? Algum tipo de pervertido?” e minha mãe disse “Vai lá, Lita, vá pra Hollywood e toque com essas garotas”.
http://www.sing365.com/music/lyric.nsf/Lita-Ford-Biography/05DD00253A08DBA748256D570027666E
Mas essa nova característica não veio fácil. Lita quase não ficou na banda e chegou a desistir por um curto período de tempo por conta de diferenças musicais. Ao contrário das outras garotas, Lita já dominava seu instrumento a muitos anos e curtia um rock mais pesado com pegadas mais complexas. O rock mais básico de The Runaways não lhe fazia muito a cabeça. Além disso, ela não topava com Kim Fowley. Mas percebendo as boas vibrações da banda e vendo nela uma oportunidade para crescer musicalmente, Lita ficou e aos poucos foi imprimindo sua marca de rock agressiva.
Em novembro de 1975, The Runaways faz sua primeira apresentação para o público no famoso clube Whisky-a-Go-Go em Hollywood. Até então elas tocavam em festas pela região. Foi por essa época que Kim Fowley e Joan Jett conheceram as gêmeas Marie and Cherie Currie então com 15 anos. Fowley então convida Cherie para fazer um teste para entrar para a banda. No documentário Egdeplay, Kari Chrome diz que não sabe ao certo se Fowley tinha planejado colocar uma loira bonita como vocalista ou se foi apenas uma coincidência.
O fato é que Cherie Currie (e sim, esse é o nome verdadeiro dela) apareceu para o teste de vocalista sem saber cantar nenhuma música. Fowley tinha dito a ela para aprender uma música de Suzi Quatro, mas ela escolheu “Fever”, uma música lenta que ninguém conhecia. Foi então que Joan Jett e Kim Fowley foram para uma sala vazia ao lado do galpão e fizeram “Cherry Bomb” em menos de 30 minutos. A música é um trocadilho com o nome de Cherie e a palavra “cherry” que significa cereja em inglês. A idéia é de uma garota aparentemente doce mas que é rebelde. E rebelde aqui engloba alguma conotação sexual e muito barulho. Cherie aprendeu a cantar a música e mais tarde foi aceita na banda na posição de vocalista solo.
ERRATA: Pessoal, de acordo com informações do Facebook Sandy West – The Beat Goes On, que é um Facebook bem confiável atualmente atualizado por um amigo pessoal da própria Sandy, a garota de cabelos encaracolados da foto acima é Peggy Foster e não Micki Steele. De acordo com algumas evidências, inclusive a biografia de Cherie Currie, Micki Steele nunca chegou a tocar no mesmo line-up que Cherie. Quando Cherie entrou na banda, Kim Fowley estava à procura de uma nova baixista e vocalista pras Runaways. O teste de Lita Ford pra o baixo, inclusive, foi uma tentativa de substituir Micki.
Pouco tempo depois Micki Steele abandona o grupo. Sua saída tem muitas versões, mas a difundida pela própria Micki é de que ela teria sido demitida por Fowley por não aceitar as investidas sexuais dele e por achar “Cherry Bomb” uma música estúpida. Fowley rebateu diversas vezes dizendo que Micki não tinha a “mágica” necessária para a carreira musical.
Peggy Foster substitui Micki no baixo mas dura apenas três semanas. Motivo: uma briga com Cherie Currie sobre quem cantaria a música “I´m your fantasy”. Cherie mais tarde diria que não se sentia confortável cantando sobre ser a fantasia de alguém e muda a música para “You´re my fantasy”. A música, lenta e brega, não implaca e nunca foi gravada.
Nesse contexto entra Jackie Fox (então Jacqueline Fuchs) para ocupar o posto, novamente vago, de baixista. Jackie já tinha tentado entrar para The Runaways como guitarrista, mas não tinha passado no teste. Kim Fowley então liga para ela após a saída de Peggy Foster dizendo que ainda achava que ela poderia se dar bem na banda. É comum que guitarristas tenham alguma noção de como tocar baixo, então Jackie faz o teste para baixista com um baixo emprestado. Todos os membros da banda votaram para que Jackie entrasse, de menos Lita Ford. Cherie convence Lita a deixar Jackie entrar, mas mais tarde no documentário Edgeplay, Cherie disse que na época estava cansada e que realmente não se importava com quem entrasse para a banda.
Com a entrada de Jackie, temos a formação clássica de The Runaways.
Bibliografia (em inglês):
Runaways Stories: blog com o acervo de histórias escritas por Jackie Fox sobre a banda.
The Runaways: Wild Thing: Matéria do L.A. Weekly sobre Sandy West e sua trajetória musical e pessoal.
Joan Jett: A Girl, A Runaway: Entrevista com Joan Jett em que ela conta sua experiência com a banda.
Wikipedia (Micki Steele): Página de Micki Steele na Wikipedia.
Wikipedia (The Runaways): Apesar de muita informação estar incorreta (ou pelo menos não confirmada), vale a pena dar uma olhada nas páginas dos albuns.
Lita Ford Biography: resumo da biografia de Lita Ford dentro e fora de The Runaways.
Perfil de Jackie Fox no Facebook: a verdadeira Jackie Fox.
Perfil de Jackie Fox no Twitter: também a verdadeira.
Perfil de Jackie Fox no My Space: contém informações sobre a banda no blog.
Site oficial The Runaways: o site é ligado diretamente a Joan Jett. Tem um design legal mas informações bem resumidas.
Perfil The Runaways Tribute no Facebook: vale pelas fotos.
Edgeplay: A Movie About The Runaways: documentário feito pela também ex-Runaway Victory Trishler-Blue.
Neon Angel: A Memoir of a Runaway: biografia de Cherie Currie co-escrita pela própria. Lembrando que Cherie é uma drama queen,então alguns fatos devem ser encarados com cautela. Isso sem falar que cocaína raramente ajuda a lembrar das coisas com coerência.
Pingback:Discografia e História: The Runaway – PARTE 2: The Runaways « Mundo de Coisas Minhas
Muito bom esse post. Eu não conhecia as runaways, depois que eu vi o filme apaixonei.
A história delas é bem bacana e nem tudo apareceu no filme. Vou postar a lenha do tempo até 1979…
Simplesmente FODAS !!!
Eu e minha banda espelhamos nelas, nossa um incone da decada de 70! Conheço todas as musicas delas, é como se fossem autobiograficas sei la! Elas que abriram as portas, revolucionaram mostrando que mulher tambem sabe fazer rock ‘n roll baby 😉
The Runaways Forever <3
Se eu tivesse uma banda, seria super The Runaways. hahaha Quem sabe numa outra vida.
E elas revolucionaram o rock com apenas 16 anos. Isso é que é fantástico!
Cara elas são as “rainhas do Rock” com certeza amei a história delas e com certeza sou super fã!
PS: Não passa a história toda delas no filme;
Pois é, Ana, no filme a história ficou bem incompleta. Continua acompanhando os posts aqui que minha idéia é contar tudo, até o fim da banda em 1979…
Elas foram pioneiras em combinar punk rock e heavy metal em 1975-1979, mais de uma década antes do grunge.
Melissa, meus parabéns pela iniciativa de contar uma história tão fascinante.
Eu também escrevi reportagens completas sobre as Runaways e Edgeplay.
Mas você trouxe dados desconhecidos do público brasileiro.
Por favor, continue postando o resto da história da banda.
Abraços.
Ernesto, você escreveu no seu blog sobre as Runaways? Bem, eu comecei a escrever a história delas justamente depois de ver que não tinha nada aqui no Brasil! Vou continuar com certeza.
Eu conheci a banda a partir do filme, e depois passei a gostar muito da banda. The Runaways é realmente incrivel! E gostei muito deste blog falar sobre esta banda! Obrigado.
Espero ver você por aqui ainda, Brenda. Tenho muita coisa pra falar de The Runaways por aqui…
Melissa, eu não tenho um blog pessoal, mas criei uns 18 blogs-dossiês sobre Política, Religião, Música, Cultura Pop, etc.
Um deles foi o WOMEN ROCK.
O conteúdo está também em formato Word Ilustrado.
São reportagens extensas – e intensas.
2 delas sobre as Runaways.
Posso lhe enviar meus Artigos Ilustrados por esse e-mail profissional:
rez1@ig.com.br
Sinta-se á vontade para responder com comentários, críticas e sugestões.
THE LEGEND OF KARI KROME
The Runaways songwriter — an icon and living legend, and one of the androgynous beauties we’ve read so much about.
Kari Krome – Interview – Women Of Punk – Los Angeles
http://antebellumgallery.blogspot.com/2010/09/legend-of-kari-krome.html?zx=7934ec1211cb2be2
Oh Kari Krome… Bem interessante. Uma pena mesmo que o envolvimento com drogas tenha prejudicado tanto sua carreira…