O Natal de ontem e de hoje

Eu queria escrever que Natal não é só ganhar presente, mas isso seria muito cliché. Queria também dizer que é tempo de recomeço, que é um tempo de reflexão e de amor e que as pessoas parecem ter se esquecido disso, mas isso também soaria cliché. Então o que é que eu posso dizer sobre o Natal? Que é a maior festa da cultura cristã? Que é a maior fonte de renda do comércio no ano inteiro? Que é o símbolo do nascimento de um cara bacana há 2000 anos atrás cujos ensinamentos até hoje não conseguimos entender?

Isso tudo parece pouco.

Quando eu era criança, adorava o Natal. Era uma época mágica. Eu me lembro de esperar ansiosamente pela reunião da família, pela comida especial preparada pelo meu pai, pelo Amigo Oculto, pelos presentes ao pé da árvore na manhã do dia 25… Contava os dias esperando o Natal, a época do ano em que as luzinhas se acendem nas árvores e no coração das pessoas. Engraçado, é  a visão exata passada por comédias românticas natalinas e filmes infantis. Mas eu sentia isso de verdade.

Hoje não espero pelo Natal tão ansiosamente. Quer dizer, quando você trabalha até o dia 23 às vezes fica difícil sentir toda aquela ansiedade no coração, de contar nos dedos os dias que faltam… Sem contar que toda aquela visão ingênua acaba se perdendo e você começa a prestar atenção nas hipocrisias que existem por trás daqueles ditos abraços natalinos e dos presentes de Amigo Oculto. É triste. Era muito melhor ser aquela criancinha empolgada.

Eu não quero entrar no hall daquelas pessoas que falam mal do Natal, que acham que tudo é comércio, que não há espírito natalino verdadeiro. Mas ao mesmo tempo sei que não posso voltar no tempo e ter aquele coração de criança. Por conta disso, nesse Natal, resolvi meditar e tentar descobrir o que o Natal realmente significa para mim. Foi um tanto difícil, mas encontrei uma resposta e ela é tão óbvia e tão perto daquela visão infantil que até me assustei.

O Natal é tempo de perdoar.  E por perdoar, eu digo ao mesmo tempo aceitar, esquecer e sentir o coração mais leve em relação a coisas do passado. E perdoar pode ser uma coisa tão simples. É entender que aquele amigo não ligou no dia do seu aniversário porque ele esqueceu, mas que nem por isso ele não gosta de você e não se lembre de você em outros dias no ano de forma tão ou mais importante. É aceitar que a pessoa que você ama disse coisas ruins mas isso não quer dizer que ela ainda não te ame. É simplesmente ter mais paciência com aquelas pessoas chatas do trabalho que implicam com tudo que você faz e que não reconhecem seu esforço. É ver que algumas pessoas nunca vão te reconhecer como você queria mas isso não faz com que elas sejam más. É esquecer – e esquecer de verdade – aquele parente que fez mal a você e à sua família, por mais absurdo que possa parecer esse esquecimento. É reconhecer que você mesmo tem limitações e não pode resolver todos os problemas do mundo e viver com isso da melhor maneira possível.

Perdoar nunca é fácil, mas é um exercício diário. Demorei um pouco para perceber isso, mas é verdade. Acho que ninguém consegue perdoar de uma hora para outra verdadeiramente e o melhor jeito é começar com as pequenas coisas. E só então passar para o mais difícil, que é perdoar a si mesmo. O Natal acaba sendo uma ótima oportunidade para começar a pensar em tudo isso.

Só gostaria de dizer que perdão não tem nada a ver com religião ou crenças pessoais. É simplesmente um sentimento que faz bem às pessoas e a você mesmo. É um modo de estar no mundo.

Bem, desejo assim então, um Feliz Natal a todos vocês!

Um comentário

  1. Acho que todos nós temos uma desilusão com o Natal a medida que vamos crescendo.

    Mas seu texto ficou lindo Mel! Amo vc!

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