Resenha de Livro: Um Dia

Eu já tinha assistido o filme e chorando um bocado, mas digo que o livro foi uma experiência mais dolorosa. Não, não por motivos óbvios. Achei Um Dia um livro depressivo, até difícil de ingerir. Sim, é também um livro incrível. Mas quando penso muito sobre ele, fica aquele gosto ruim na boca…

A premissa é muito simples. Emma e Dexter se conhecem no dia 15 de julho de 1988. A partir daí, suas vidas tomam rumos diferentes, mas os dois estão sempre em contato. Os anos passam e o leitor acompanha o que aconteceu com eles, sempre no dia 15 de julho.

Emma é uma jovem cheia de sonhos e pouco dinheiro. Dexter é um cara rico sem saber o que fazer na vida. Emma é apaixonada por Dexter. Dexter é apaixonado por Emma e por todo mundo. Eles decidem que vão ser apenas amigos e lá vamos nós encarar os 20 anos de convivência desses dois.

Uma grande amiga me emprestou esse livro (sim, estou falando de você no meu blog, Lu) e ele fez parte da Maratona Literária 3.0. Um Dia já é um livro bem famoso pela blogosfera e rendeu um filme lindo com Anne Hathaway e Jim Sturges. Mas o que mais me deixou surpresa com o livro foi o tom depressivo, que é ausente no filme.

Muito mais do que uma narrativa sobre um romance triste, Um Dia é um livro sobre envelhecer, perder as esperanças, se adequar. Principalmente se levarmos em conta a narrativa de Emma. Lá nas últimas páginas, não pude evitar sentir um aperto no coração quando ela considera:

Não, esta era a vida real, e era normal não se sentir mais tão curiosa ou apaixonada como no passado. (…) seria inapropriado, indigno, ter amizades ou casos de amor com o mesmo entusiasmo e a intensidade de uma garota de vinte e dois. (..) Não, tudo agora estava assentado e estabelecido, e a vida era levada num clima geral de conforto, satisfação e familiaridade. Não haveria mais enervantes altos e baixos.

É o tipo de coisa que deixa a gente enervada. Eu, pelo menos. Eu sou uma pessoa bastante apaixonada por tudo que tenho e faço e um dos meus maiores medos é justamente um dia acordar e perceber que não tenho mais isso. Então ver isso acontecer narrativamente com Emma foi assustador pra mim.

Um Dia é um daqueles livros em que os personagens mudam, amadurecem, se tornam pessoas diferentes (não necessariamente melhores ou piores). O romance é apenas uma justificativa para que tudo isso seja discutido. E apesar de eu ainda não conseguir entender o que Emma via em Dexter, o livro apela para aquele sentimento universal de se sentir rejeitado.

Rejeição é um grande tema em Um Dia, mas não apenas da forma óbvia que é a falta de confiança de Emma. Dexter também é rejeitado inúmeras vezes. O que fazer com a rejeição? Como lidar com ela? Vemos Emma e Dexter tentarem responder essa pergunta ao longo de mais de 300 páginas.

Algumas vezes, muito ocasionalmente, digamos às quatro horas da tarde de um domingo chuvoso, Emma se sente em pânico e quase não consegue respirar com a solidão.

Um Dia chega muito perto de nós e talvez por tratar de temas tão parte da nossa vida (não só rejeição e envelhecimento, mas ansiedade, paixão, morte, desejo), ele se conecte ao leitor de uma forma tão intensa. Conheço gente que vê o livro como uma linda história de amor. Já vi resenhas que tratam o livro como um drama de família. Ou mesmo como um retrato da vida moderna. Um Dia chegou pra mim com um toque opressor de depressão e melancolia.

Mas fico feliz de ter lido essa história, pois ela me fez pensar. Dizem por aí que best-sellers não podem oferecer reflexão boa, mas Um Dia está aí pra provar que não é bem assim. A própria recepção do livro mostra que ele possui várias chaves de leitura (história de amor, drama da vida moderna, romance de formação, etc). Bons livros são sempre assim.

Ao abraçá-la,a Tottenham Court Road iluminou-se gloriosa e transformou-se numa rua de sonhos.

Mas mesmo em meio ao caos da vida, ao medo e à ansiedade que estão sempre conosco, existe sim felicidade.

É isso que faz viver falar apenas. Não apenas um, mas todos os dias.

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